quinta-feira, 25 de junho de 2009

Mãos - Instalação - Elke Littig / Foto - Marco Struve



UMA EXPLICAÇÃO DO ARTISTA


Marco Antônio Struve


Nada mais lisonjeiro do que o que acontece comigo, ou com minha poesia, ou com minhas fotografias. Nunca fiz mais do que me divertir, escrevendo apenas o que dava para escrever, focando-me sobre as coisas mais banais, escolhidas perfeitamente ao acaso dentro de minhas memórias.

Juntar a pintura e a fotografia com a minha poesia trata-se de uma empresa concebida de forma completamente leviana, sem nenhuma intenção profunda, alem de partir das palavras e ir até as coisas.

Vão nos recriminar, por um lado, por esperarmos ver nossas idéias saírem das palavras para adquirirem outras formas, outros materiais, prever sua forma de envelhecer, buscar um certo ponto de vista eterno, sereno, mais ao mesmo tempo de uma forma casual, efêmera, suscetível de questionamentos.

Sob certo aspecto, a vida de uma fotografia, de um poema ou de um quadro, começa no dia em que fica pronto. Conclui-se no momento em que graças aos cuidados do fotógrafo adquiriu sua forma definitiva, foi lapidada pelo olhar, polida pela luz. Assim também, quando o poema escorre para o papel em sua forma definitiva. Assim também, quando o pintura, pigmentada de paixão e cores é esquadrada.

A partir daí, fotografia, poesia e pintura iniciam sua vida própria. Experimentando períodos de adoração, admiração, amor, desprezo ou indiferença, graus sucessivos de erosão e uso, até se reduzirem ao estado bruto do qual foram arrancados.

A beleza tal como desejou um cérebro humano tem a si acrescentados uma beleza involuntária, associada aos acasos da historia, aos efeitos de causas naturais e do tempo, perfeitas pela própria ação do olhar. O homem inteiro está ali, sua colaboração inteligente com o universo, sua luta contra ele, e essa derrota final em que o espirito desprendesse da obra para sobreviver por si própria.

Este é o objetivo principal desta experiência: colocar lado a lado obras que de um certo modo se completam, interagem relacionando-se umas as outras ao mesmo tempo em que tenham vida própria, independentes umas das outras e até de seus autores.

Não nos importamos com as imperfeições. A perfeição é um caminho que só conduz à solidão. Amamos por não sermos capazes de suportar a solidão, e por este mesmo motivo tememos a morte. Mas a solidão é um exercício e a memória dos homens se assemelha aos viajantes que de tempos em tempos precisam se desfazer de suas bagagens inúteis. É assim que surge minha poesia, destas faxinas na memória, deste deixar as lembranças antigas para recolher novas.

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